2 PASSIONS : SOUVENIRS A QUATRE MAINS
2 PAIXÕES : LEMBRANÇAS À QUATRO MÃOS
Michel Subrenat-Auger - Paris e David Nobre - Lisboa
“ Resposta à pergunta do meu
grande amigo David Nobre: Michel, como chegaste lá em modelismo? ”
AS 2 PAIXÕES QUE ME CONDUZIRAM ONDE CHEGUEI EM MODELISMO FERROVIÁRIO
Quando tinha 10 anos, em 1954 (---)
- A primeira, com os comboios eléctricos da linha Paris St-Lazare - Versailles (750V) e outros puxados por locomotivas a vapor, que passavam ao lado da nossa habitação.
E um presente do Pai Natal, da marca Rivarossi, já em HO. Era Italiano mas isso não me incomodava realmente.
- A segunda, com o meu Pai, apaixonado pela fotografia desde sempre, que me fez cair dentro das suas tinas de revelação.
O comboio era giro, mas andava em círculos numa linha muito frágil, fixada numa tábua de 1,20 de lado e isso irritava-me. Precisava de uma decoração, com casas e árvores.
Como fazer essa decoração? Simplesmente indo observar onde passava o comboio, à saída de Paris, St-Cloud para ser preciso ou em Touraine, durante as férias.
O meu tio era ferroviário em Paris-Batignolles; outro amigo era maquinista das máquinas a vapor do depósito do Batignolles e um primo era “cantoneiro” na linha Vierzon - Tours. Lugares únicos, de sonho.
Ao lado da estação de St-Lazare, no bairro da Europa, “rue d'Amsterdam”, havia a super loja “Au Pullman”, que ainda existe, cujas vitrinas eram preenchidas de bonitos comboios… destino: a "rue de Lisbonne" ficava a uns 100 metros dali. Outro templo dos comboios miniaturas “La Maison des Trains” estava instalado na “Passage du Havre”, igualmente bem abastecida.
Inútil dizer que salivei muito tempo em frente de todas estas maravilhas.
Para memorizar tudo isso, nada como uma pequena maquina fotográfica, à época um Brownie Kodak que recebi de presente na minha comunhão.
Então, para ver mais rapidamente as minhas fotos, revelava-as e ampliava-as com a ajuda do meu Pai A.A. que se apoderava “abusivamente” da casa de banho. Inútil dizer que com grande desespero da minha Mãe, que reclamava fortemente das manchas deixadas pelos produtos químicos…
Foi assim que meti o dedo (e mesmo o braço) nestas 2 paixões que tenho, hoje mais do que nunca.
Desde então sempre foto-grafei as minhas construções para ver se elas se assemelhavam de facto à realidade.
À força de me embrenhar no jogo, achei-me “na obrigação” de possuir bonito material circulante (não do mais barato, infelizmente) e material fotográfico que fosse bem (que também não é gratuito!)
Devo confessar que a minha profissão de desenhador publicitário / gráfico facilitou as coisas a nível do acesso às diferentes técnicas utilizadas em modelismo ferroviário, dado que fazem parte do meu ofício.
Em 1984, Clive Lamming escreveu nas colunas de Loco Revue "Ne dites pas à ma mère que je suis modéliste ferroviaire, elle me croit dans la publicité". (Não diga à minha mãe que sou modelista ferroviário, ela acha que estou na publicidade). Apresentava o meu primeiro grande estaleiro: o “Dépôt du Nord” inspirado do depósito de Calais. A nova moda falava de "modelismo de atmosfera"...
Quando em 1986 se começa a falar de informática, com computadores que deverão ser capazes de se tornarem em ferramentas de sonho para os gráficos, eu mergulho imediatamente nesta nova técnica tão promissora. Comprei o meu primeiro MAC (II fx) em 1987.
Mais tarde, os aparelhos fotográficos tornaram-se também numéricos. Hoje oferecem capacidades fabulosas.
Um MAC (instrumento preferido dos gráficos), um bom APN e algum software específico põem o laboratório foto “do vôvô” na prateleira, como se saísse directamente da idade média… não há mais necessidade de nos fecharmos num laboratório iluminado de vermelho, que sente a química e que faz manchas. Revelar as suas fotografias tornou-se um sonho!
Todo isto explica porque as minhas 2 paixões se tornaram inseparáveis uma da outro. Eu conjugo-as a todo o tempo.
Hoje, cada vez que algo me parece terminado, tiro-lhe o retrato para ver se este se assemelha a um verdadeiro.
Desta maneira nascem todas as minhas maquetas e as suas fotografias, o truque imparável para enganar o olho de quem observa!
Obrigado David por esta magnífica história de comboios
grande amigo David Nobre: Michel, como chegaste lá em modelismo? ”
AS 2 PAIXÕES QUE ME CONDUZIRAM ONDE CHEGUEI EM MODELISMO FERROVIÁRIO
Quando tinha 10 anos, em 1954 (---)
- A primeira, com os comboios eléctricos da linha Paris St-Lazare - Versailles (750V) e outros puxados por locomotivas a vapor, que passavam ao lado da nossa habitação.
E um presente do Pai Natal, da marca Rivarossi, já em HO. Era Italiano mas isso não me incomodava realmente.
- A segunda, com o meu Pai, apaixonado pela fotografia desde sempre, que me fez cair dentro das suas tinas de revelação.
O comboio era giro, mas andava em círculos numa linha muito frágil, fixada numa tábua de 1,20 de lado e isso irritava-me. Precisava de uma decoração, com casas e árvores.
Como fazer essa decoração? Simplesmente indo observar onde passava o comboio, à saída de Paris, St-Cloud para ser preciso ou em Touraine, durante as férias.
O meu tio era ferroviário em Paris-Batignolles; outro amigo era maquinista das máquinas a vapor do depósito do Batignolles e um primo era “cantoneiro” na linha Vierzon - Tours. Lugares únicos, de sonho.
Ao lado da estação de St-Lazare, no bairro da Europa, “rue d'Amsterdam”, havia a super loja “Au Pullman”, que ainda existe, cujas vitrinas eram preenchidas de bonitos comboios… destino: a "rue de Lisbonne" ficava a uns 100 metros dali. Outro templo dos comboios miniaturas “La Maison des Trains” estava instalado na “Passage du Havre”, igualmente bem abastecida.
Inútil dizer que salivei muito tempo em frente de todas estas maravilhas.
Para memorizar tudo isso, nada como uma pequena maquina fotográfica, à época um Brownie Kodak que recebi de presente na minha comunhão.
Então, para ver mais rapidamente as minhas fotos, revelava-as e ampliava-as com a ajuda do meu Pai A.A. que se apoderava “abusivamente” da casa de banho. Inútil dizer que com grande desespero da minha Mãe, que reclamava fortemente das manchas deixadas pelos produtos químicos…
Foi assim que meti o dedo (e mesmo o braço) nestas 2 paixões que tenho, hoje mais do que nunca.
Desde então sempre foto-grafei as minhas construções para ver se elas se assemelhavam de facto à realidade.
À força de me embrenhar no jogo, achei-me “na obrigação” de possuir bonito material circulante (não do mais barato, infelizmente) e material fotográfico que fosse bem (que também não é gratuito!)
Devo confessar que a minha profissão de desenhador publicitário / gráfico facilitou as coisas a nível do acesso às diferentes técnicas utilizadas em modelismo ferroviário, dado que fazem parte do meu ofício.
Em 1984, Clive Lamming escreveu nas colunas de Loco Revue "Ne dites pas à ma mère que je suis modéliste ferroviaire, elle me croit dans la publicité". (Não diga à minha mãe que sou modelista ferroviário, ela acha que estou na publicidade). Apresentava o meu primeiro grande estaleiro: o “Dépôt du Nord” inspirado do depósito de Calais. A nova moda falava de "modelismo de atmosfera"...
Quando em 1986 se começa a falar de informática, com computadores que deverão ser capazes de se tornarem em ferramentas de sonho para os gráficos, eu mergulho imediatamente nesta nova técnica tão promissora. Comprei o meu primeiro MAC (II fx) em 1987.
Mais tarde, os aparelhos fotográficos tornaram-se também numéricos. Hoje oferecem capacidades fabulosas.
Um MAC (instrumento preferido dos gráficos), um bom APN e algum software específico põem o laboratório foto “do vôvô” na prateleira, como se saísse directamente da idade média… não há mais necessidade de nos fecharmos num laboratório iluminado de vermelho, que sente a química e que faz manchas. Revelar as suas fotografias tornou-se um sonho!
Todo isto explica porque as minhas 2 paixões se tornaram inseparáveis uma da outro. Eu conjugo-as a todo o tempo.
Hoje, cada vez que algo me parece terminado, tiro-lhe o retrato para ver se este se assemelha a um verdadeiro.
Desta maneira nascem todas as minhas maquetas e as suas fotografias, o truque imparável para enganar o olho de quem observa!
Obrigado David por esta magnífica história de comboios
David, parece-me igalmente que com teu irmão, tiveram um percurso muito semelhante ao meu.
Agora deves contar-me esta história !
É engraçado, Michel, como alguns aspectos desta tua história me trazem à memória boas recordações de infância e adolescência e como certos temas influenciaram o nosso progresso ferromodelístico, distinto, mas idêntico aqui e ali.
E estou certo que outros amigos, que nos têm, em Portugal como em França ou na Espanha, encontram também pontes neste ou naquele aspecto das nossas lembranças.
Sabes, por meados dos anos 70, o meu irmão Paulo e eu, então com uns 15, 16 anos, iniciámo-nos na fotografia, numa série de cursos oferecidos no liceu, com o apoio do IPF.
Acabámos por transformar a casa de banho pequena lá de casa em laboratório fotográfico (!), com o apoio dos nossos pais, que sempre mostraram entusiasmo por estas nossas "traves-suras"!
Tínhamos um laboratório MEOPTA, onde revelava-mos as nossas fotos a Preto e Branco (PB). Faziamos as nossas experiências macro com uma caixa "pinholle" que construímos. Claro, o motivo era, na maioria das vezes, ferromodelístico! Para o efeito construí, em cartão, um pequeno quarteirão em HO, inspirado nas casas da nossa terra, com as ruas e os passeios em calçada gravada em bristol.
Tinha uma Praktica com objectiva Pentacon 35-70 e uma Zenit 50 mm (filmes a Côr e PB, por vezes Slides). O meu irmão, mais "elitista", só fazia PB. Adquiriu um aparelho e um fotómetro de alta sensibilidade Voigtländer em 2.a mão, umas lentes Carl Zeiss e mais uma panóplia de apetrechos. Ele seguiu os estudos sobre fotografia e imagem e chegou a montar o seu estúdio fotográfico nos anos 90.
O laboratório do wc ainda funcionava quando deixei a casa e me casei, uns 10 anos mais tarde...
Mas este gosto, como o dos comboios, começou mais cedo. Aos 10 e 11 anos, os nossos pais ofereceram-nos, pelo Natal, uma Kodak Rapid e uma Agfamatic, que levávamos sempre connosco e com as quais tirámos as primeiras fotos de comboios, a cores, nos anos 70!
A paixão pelos modelos ferroviários sempre foi a par da paixão pelos comboios verdadeiros.
As minhas recordações ferroviárias remontam ao início dos anos 60. Lembro-me da placa giratória do Rossio, onde ia passear com o meu avô, tinha 3 anos de idade. E, quando a UTE 2000, 1ª ou 2ª fase, que apanhávamos no Rossio a caminho da Amadora (íamos de Alverca para o Rossio também em UTE), passava junto ao depósito de Campolide, à saída do túnel, onde estacionava o comboio FIAT Foguete, todo prateado, ao lado das Allan azuis, que sonho...
Íamos também muitas vezes à terra, ao Cadaval, na carreira dos Claras.
Um dia o meu pai decidiu que iríamos de comboio até ao Bombarral, em vez da camioneta. Aí estava eu, com 7 anos, a viagem toda no furgão da Allan, em pé colado ao vidro da frente! Inesquecível...
E tantas outras memórias.
Um certo Sábado de manhã, 1967, Campolide saturada de comboios por causa da queda de uma catenária na linha de Sintra. O nosso comboio era uma UTE da 1ª fase em tranvia Rossio - Vila Franca (onde, como sempre, os meus pais ocupavam o banco da frente, enquanto que eu e o meu irmão íamos "pendurados" no armário junto ao vidro da frente). Depois de um bom quarto de hora para-dos no interior do túnel logo à partida do Rossio, lá fomos recebidos em Campolide na linha 4, à retaguarda de outra composição, onde foi feito o serviço de passageiros e aí permanecemos por quase meia hora. Por fim, recuámos de novo à boca do túnel, avançámos pela linha de recepção do parque de material até à linha de distribuição no topo junto a Sete-Rios, onde nos imobilizámos de novo. Passado algum tempo, recuámos através do parque, vindo a estacionar na linha de saco encostada à escarpa, por detrás das oficinas de material eléctrico, onde ficámos de novo uma eternidade. Escusado referir o mau humor que se transpirava naquele comboio cheio de passageiros exauridos. Claro, excepto dois traquinas de 6 e 7 anos, radiantes com todas aquelas manobras, principalmente com o privilégio de conhecer a parte escondida das oficinas.
De outra vez, com 8, em Alhos Vedros, uma Pacific em manobra parou na PN, com aqueles rodados enormes bem à minha frente, eu a querer ir ver mais de perto e a minha mãe, cheia de medo, a agarrar-me: "ó mãe, não tem perigo! Acha que a máquina pode sair dos carris?" Não a convenci.
A partir dos 12, frequentava o liceu em Vila Franca. A viagem de e para Alverca era sempre em UTE, quantas vezes ao lado do maquinista.
O meu primeiro comboio eléctrico "a sério", foi o conjunto TEE da Jouef, no Natal de 1967, a meias com o Paulo. Hum...aquela CC 40101 com as suas duas carruagens TEE inox, tão parecidas com os nossos comboios verdadeiros (as UTEs) que usávamos regularmente para ir ver os tios à Amadora... Deste conjunto não restou nada, tantas foram as vezes que desmontei e remontei as peças.
O modelismo ferroviário começou verdadeiramente com os pontos Pensal. Na década de 70, a Nestlé, em parceria com a Jouef, lançou uma promoção na farinha láctea e o leite em pó Pensal, que se manteve por anos. Juntavam-se os pontos impressos nas caixas da farinha e do leite e trocavam-se por linhas, agulhas, máquinas, carruagens, vagões e transformador. Foi assim que adquiri as CC70001, BB 12001, CIWL, Grua Cockerill de 85 T, montes de linhas e agulhas e 2 transformadores 9100. O delírio era consumir dois pacotes de farinha por semana... e assim nasceu a primeira maqueta "modular": 3 pranchas com uma dimensão total de 2,40 por 1,35, desmontáveis, para poderem caber no quarto de dormir durante os períodos de férias escolares. Nessas alturas dormíamos no chão. Podiam andar 2 comboios ao mesmo tempo (os dois transformadores Jouef Norma 1500), tinha uma estação terminal onde as manobras de formação/
desformação das composições, com um locotractor holandês da Roco, de ralenti excepcional, se inspiravam nas de Stª Apolónia.
O meu primeiro catálogo foi o Jouef de 1974 (ainda o tenho), que me fascinava! Bebia toda aquela informação com uma avidez... e sonhava com a Jouefmatic. Só que eu não conhecia nada do mundo que girava em torno do modelismo ferroviário. De certo modo, pensava que cada um "brincava" aos comboios no seu cantinho, sem qualquer interacção com os outros.
Em 1977 descobri por acaso, na Livraria Britânica no Cais do Sodré, um exemplar da Railway Modeller. E pouco depois a Model Railroader. Bom, de repente, comecei a ver que afinal, aquilo que eu fazia - os edifícios, arvores, a sujidade nos modelos, etc. - e os meus projectos de maquetas, eram parte de um quotidiano à escala planetária!
Por essa altura, 17 anos, conheci a loja do Largo da Anunciada, junto ao Eleva-dor do Lavra. Claro, tam-bém conheci o Biagio Flora e o Bazar do Povo, na Rua do Ouro, mas a loja do Tadeu, na Anunciada, era especial. Um cubículo com uns 4 por 4 metros e um balcão de 1,5 m sempre cheio de tralha, paredes completamente forradas de comboios de baixo a alto - Jouef, Lima, Trobby, Playcraft, Jep, Paya, France-Trains, Hornby HO, alguma Rivarossi, Eger-Bahn original, enfim... Horas e horas e horas à conversa com o velho Tadeu, sempre de cigarro na boca. Foi lá que comprei a primeira Brissonneau 63500, tão igual às nossas iliduzentas (1200), de um lote de 3 acabadinhas de lançar pela Roco, que o Tadeu mandou vir em contrabando directamente de França, mesmo antes de o importador em Portugal as poder encomendar. Não imagino para quem terão ido as outras duas... Um dia, a loja estava fecha-da e uma nota na porta dava conta da sua morte. Nunca mais abriu. Que me lembre, o Tadeu era o único que colocava escaparates com modelos e acessórios ferro-viários no passeio, à entra-da da loja, como que convidando o transeunde a entrar naquele magnífico mundo. Frequentemente juntava-mo-nos 2, 3 à conversa com ele uma tarde inteira, sobre as nossas realizações e os nossos projectos, sem preconceitos de idade nem complexos de superioridade. Eu era sempre o puto, o mais novo.
Quando fui estudar para o Porto, em 1980, fiquei impressionado com o Bazar de Paris, na Rua de Sá da Bandeira, mas uma vez mais, foi uma loja peque-nina, mas especial, que me cativou e onde pude admirar e experimentar as magníficas Pacific Chapelon e as wagon-lits da Rivarossi. O Bazar Brochado, na Rua Santa Teresa. E comprei as minhas primeiras duas Alco para fazer as miliquinhentas (1500), em conjuntos da Mehanotehnica, numa drogaria na Prelada!
Foi nessa altura que fiz a maqueta "Reguengos", de que publiquei uma foto na página do FB, e com a qual ganhei o primeiro prémio num concurso de temática artística diversa. Publiquei uma foto na minha página do Facebook (David Nobre Modelismo). Mostrei esta maqueta na festa do Avante de 1982, por convite do meu tio que era ferro-viário e membro do PCP e, no ano seguinte na Feira Industrial de Lisboa, onde foi um dos centros de atracção da primeira participação da APAC, a que aderi entretanto.
Depois, em 1983, tomei contacto com a Loco Revue e a Rail Miniature Flash, e acabei por assinar a LR a partir de Janeiro 1984, por mais de uma década. Foi aí que descobri as técnicas de modelagem da resina e do chumbo, a que aderi de imediato, e que me deleitei com o avanço do sistema modular em França, a par do nascimento do conceito de modelismo de atmosfera, que quis trazer para Portugal, com alguns amigos, num célebre mas malogrado projecto de realização da estação do Seixal no núcleo de modelismo da APAC. E assim descobri os magníficos trabalhos de nomes que se tornaram ícones do modelismo ferro-viário, como Jacques
Le-Plat ou Alain Pras, ou o Jean-Louis Audigué e tu, Michel, com o belo Dépôt du Nord, de entre outras realizações estupendas com que nos presenteaste ao longo dos tempos. Quem diria que, quase trinta anos depois, nos viriamos a conhecer e a tornarmos amigos, a ponto de partilhar-mos "a quatro mãos" um pouco da nossa história e motivações.
Et voilà, le boucle est bouclée, obrigado por este generoso convite e, sobre-tudo, desculpa a extensão do texto.
Mas é difícil sintetizar quando a emoção toma conta da nossa memória.
Agora deves contar-me esta história !
É engraçado, Michel, como alguns aspectos desta tua história me trazem à memória boas recordações de infância e adolescência e como certos temas influenciaram o nosso progresso ferromodelístico, distinto, mas idêntico aqui e ali.
E estou certo que outros amigos, que nos têm, em Portugal como em França ou na Espanha, encontram também pontes neste ou naquele aspecto das nossas lembranças.
Sabes, por meados dos anos 70, o meu irmão Paulo e eu, então com uns 15, 16 anos, iniciámo-nos na fotografia, numa série de cursos oferecidos no liceu, com o apoio do IPF.
Acabámos por transformar a casa de banho pequena lá de casa em laboratório fotográfico (!), com o apoio dos nossos pais, que sempre mostraram entusiasmo por estas nossas "traves-suras"!
Tínhamos um laboratório MEOPTA, onde revelava-mos as nossas fotos a Preto e Branco (PB). Faziamos as nossas experiências macro com uma caixa "pinholle" que construímos. Claro, o motivo era, na maioria das vezes, ferromodelístico! Para o efeito construí, em cartão, um pequeno quarteirão em HO, inspirado nas casas da nossa terra, com as ruas e os passeios em calçada gravada em bristol.
Tinha uma Praktica com objectiva Pentacon 35-70 e uma Zenit 50 mm (filmes a Côr e PB, por vezes Slides). O meu irmão, mais "elitista", só fazia PB. Adquiriu um aparelho e um fotómetro de alta sensibilidade Voigtländer em 2.a mão, umas lentes Carl Zeiss e mais uma panóplia de apetrechos. Ele seguiu os estudos sobre fotografia e imagem e chegou a montar o seu estúdio fotográfico nos anos 90.
O laboratório do wc ainda funcionava quando deixei a casa e me casei, uns 10 anos mais tarde...
Mas este gosto, como o dos comboios, começou mais cedo. Aos 10 e 11 anos, os nossos pais ofereceram-nos, pelo Natal, uma Kodak Rapid e uma Agfamatic, que levávamos sempre connosco e com as quais tirámos as primeiras fotos de comboios, a cores, nos anos 70!
A paixão pelos modelos ferroviários sempre foi a par da paixão pelos comboios verdadeiros.
As minhas recordações ferroviárias remontam ao início dos anos 60. Lembro-me da placa giratória do Rossio, onde ia passear com o meu avô, tinha 3 anos de idade. E, quando a UTE 2000, 1ª ou 2ª fase, que apanhávamos no Rossio a caminho da Amadora (íamos de Alverca para o Rossio também em UTE), passava junto ao depósito de Campolide, à saída do túnel, onde estacionava o comboio FIAT Foguete, todo prateado, ao lado das Allan azuis, que sonho...
Íamos também muitas vezes à terra, ao Cadaval, na carreira dos Claras.
Um dia o meu pai decidiu que iríamos de comboio até ao Bombarral, em vez da camioneta. Aí estava eu, com 7 anos, a viagem toda no furgão da Allan, em pé colado ao vidro da frente! Inesquecível...
E tantas outras memórias.
Um certo Sábado de manhã, 1967, Campolide saturada de comboios por causa da queda de uma catenária na linha de Sintra. O nosso comboio era uma UTE da 1ª fase em tranvia Rossio - Vila Franca (onde, como sempre, os meus pais ocupavam o banco da frente, enquanto que eu e o meu irmão íamos "pendurados" no armário junto ao vidro da frente). Depois de um bom quarto de hora para-dos no interior do túnel logo à partida do Rossio, lá fomos recebidos em Campolide na linha 4, à retaguarda de outra composição, onde foi feito o serviço de passageiros e aí permanecemos por quase meia hora. Por fim, recuámos de novo à boca do túnel, avançámos pela linha de recepção do parque de material até à linha de distribuição no topo junto a Sete-Rios, onde nos imobilizámos de novo. Passado algum tempo, recuámos através do parque, vindo a estacionar na linha de saco encostada à escarpa, por detrás das oficinas de material eléctrico, onde ficámos de novo uma eternidade. Escusado referir o mau humor que se transpirava naquele comboio cheio de passageiros exauridos. Claro, excepto dois traquinas de 6 e 7 anos, radiantes com todas aquelas manobras, principalmente com o privilégio de conhecer a parte escondida das oficinas.
De outra vez, com 8, em Alhos Vedros, uma Pacific em manobra parou na PN, com aqueles rodados enormes bem à minha frente, eu a querer ir ver mais de perto e a minha mãe, cheia de medo, a agarrar-me: "ó mãe, não tem perigo! Acha que a máquina pode sair dos carris?" Não a convenci.
A partir dos 12, frequentava o liceu em Vila Franca. A viagem de e para Alverca era sempre em UTE, quantas vezes ao lado do maquinista.
O meu primeiro comboio eléctrico "a sério", foi o conjunto TEE da Jouef, no Natal de 1967, a meias com o Paulo. Hum...aquela CC 40101 com as suas duas carruagens TEE inox, tão parecidas com os nossos comboios verdadeiros (as UTEs) que usávamos regularmente para ir ver os tios à Amadora... Deste conjunto não restou nada, tantas foram as vezes que desmontei e remontei as peças.
O modelismo ferroviário começou verdadeiramente com os pontos Pensal. Na década de 70, a Nestlé, em parceria com a Jouef, lançou uma promoção na farinha láctea e o leite em pó Pensal, que se manteve por anos. Juntavam-se os pontos impressos nas caixas da farinha e do leite e trocavam-se por linhas, agulhas, máquinas, carruagens, vagões e transformador. Foi assim que adquiri as CC70001, BB 12001, CIWL, Grua Cockerill de 85 T, montes de linhas e agulhas e 2 transformadores 9100. O delírio era consumir dois pacotes de farinha por semana... e assim nasceu a primeira maqueta "modular": 3 pranchas com uma dimensão total de 2,40 por 1,35, desmontáveis, para poderem caber no quarto de dormir durante os períodos de férias escolares. Nessas alturas dormíamos no chão. Podiam andar 2 comboios ao mesmo tempo (os dois transformadores Jouef Norma 1500), tinha uma estação terminal onde as manobras de formação/
desformação das composições, com um locotractor holandês da Roco, de ralenti excepcional, se inspiravam nas de Stª Apolónia.
O meu primeiro catálogo foi o Jouef de 1974 (ainda o tenho), que me fascinava! Bebia toda aquela informação com uma avidez... e sonhava com a Jouefmatic. Só que eu não conhecia nada do mundo que girava em torno do modelismo ferroviário. De certo modo, pensava que cada um "brincava" aos comboios no seu cantinho, sem qualquer interacção com os outros.
Em 1977 descobri por acaso, na Livraria Britânica no Cais do Sodré, um exemplar da Railway Modeller. E pouco depois a Model Railroader. Bom, de repente, comecei a ver que afinal, aquilo que eu fazia - os edifícios, arvores, a sujidade nos modelos, etc. - e os meus projectos de maquetas, eram parte de um quotidiano à escala planetária!
Por essa altura, 17 anos, conheci a loja do Largo da Anunciada, junto ao Eleva-dor do Lavra. Claro, tam-bém conheci o Biagio Flora e o Bazar do Povo, na Rua do Ouro, mas a loja do Tadeu, na Anunciada, era especial. Um cubículo com uns 4 por 4 metros e um balcão de 1,5 m sempre cheio de tralha, paredes completamente forradas de comboios de baixo a alto - Jouef, Lima, Trobby, Playcraft, Jep, Paya, France-Trains, Hornby HO, alguma Rivarossi, Eger-Bahn original, enfim... Horas e horas e horas à conversa com o velho Tadeu, sempre de cigarro na boca. Foi lá que comprei a primeira Brissonneau 63500, tão igual às nossas iliduzentas (1200), de um lote de 3 acabadinhas de lançar pela Roco, que o Tadeu mandou vir em contrabando directamente de França, mesmo antes de o importador em Portugal as poder encomendar. Não imagino para quem terão ido as outras duas... Um dia, a loja estava fecha-da e uma nota na porta dava conta da sua morte. Nunca mais abriu. Que me lembre, o Tadeu era o único que colocava escaparates com modelos e acessórios ferro-viários no passeio, à entra-da da loja, como que convidando o transeunde a entrar naquele magnífico mundo. Frequentemente juntava-mo-nos 2, 3 à conversa com ele uma tarde inteira, sobre as nossas realizações e os nossos projectos, sem preconceitos de idade nem complexos de superioridade. Eu era sempre o puto, o mais novo.
Quando fui estudar para o Porto, em 1980, fiquei impressionado com o Bazar de Paris, na Rua de Sá da Bandeira, mas uma vez mais, foi uma loja peque-nina, mas especial, que me cativou e onde pude admirar e experimentar as magníficas Pacific Chapelon e as wagon-lits da Rivarossi. O Bazar Brochado, na Rua Santa Teresa. E comprei as minhas primeiras duas Alco para fazer as miliquinhentas (1500), em conjuntos da Mehanotehnica, numa drogaria na Prelada!
Foi nessa altura que fiz a maqueta "Reguengos", de que publiquei uma foto na página do FB, e com a qual ganhei o primeiro prémio num concurso de temática artística diversa. Publiquei uma foto na minha página do Facebook (David Nobre Modelismo). Mostrei esta maqueta na festa do Avante de 1982, por convite do meu tio que era ferro-viário e membro do PCP e, no ano seguinte na Feira Industrial de Lisboa, onde foi um dos centros de atracção da primeira participação da APAC, a que aderi entretanto.
Depois, em 1983, tomei contacto com a Loco Revue e a Rail Miniature Flash, e acabei por assinar a LR a partir de Janeiro 1984, por mais de uma década. Foi aí que descobri as técnicas de modelagem da resina e do chumbo, a que aderi de imediato, e que me deleitei com o avanço do sistema modular em França, a par do nascimento do conceito de modelismo de atmosfera, que quis trazer para Portugal, com alguns amigos, num célebre mas malogrado projecto de realização da estação do Seixal no núcleo de modelismo da APAC. E assim descobri os magníficos trabalhos de nomes que se tornaram ícones do modelismo ferro-viário, como Jacques
Le-Plat ou Alain Pras, ou o Jean-Louis Audigué e tu, Michel, com o belo Dépôt du Nord, de entre outras realizações estupendas com que nos presenteaste ao longo dos tempos. Quem diria que, quase trinta anos depois, nos viriamos a conhecer e a tornarmos amigos, a ponto de partilhar-mos "a quatro mãos" um pouco da nossa história e motivações.
Et voilà, le boucle est bouclée, obrigado por este generoso convite e, sobre-tudo, desculpa a extensão do texto.
Mas é difícil sintetizar quando a emoção toma conta da nossa memória.
“ Réponse à la question de mon grand ami David Nobre :
Michel, comment es-tu arrivé là en modélisme ? ”
LES 2 PASSIONS QUI M'ONT CONDUIT OÙ J'EN SUIS ARRIVÉ EN MODÉLISME FERROVIAIRE
Lorsque j'avais 10 ans en 1954 …
• La première avec les trains électriques (750V de la ligne Paris St-Lazare à Versailles) et d'autres tractés par des locomotives à vapeur qui passaient à coté de notre habitation, et un cadeau du Père Noël de la marque Rivarossi, déjà en HO. Il était Italien mais ça ne me dérangeait pas vraiment.
• La seconde avec mon Père passionné par la photographie depuis toujours qui m'a fait tomber dans ses cuves de révélateur.
Le train était bien mais il tournait en rond avec sa voie très fragile fixée sur un plateau de 1,20 de coté et ça m'ennuyait. Il lui fallait un décor avec maisons et arbres.
Comment faire le décor ? simplement en allant regarder où passait le train en sortie de Paris, St-Cloud pour être précis ou en Touraine pendant les vacances.
Mon oncle était "cheminot" à Paris-Batignolles , un autre ami était mécanicien sur les locos vapeurs du dépôt des Batignolles et un cousin était “cantonnier” sur la ligne Vierzon-Tours. Rien que des lieux de rêve.
A coté de la gare St-Lazare, dans le quartier de l'Europe, rue d'Amsterdam, il y avait le super magasin “Au Pullman”, qui existe toujours, dont les vitrines étaient remplies de beaux trains … destin : la rue de Lisbonne était 100 m. plus loin. Un autre temple du train miniature “La Maison des Trains” était installé dans le passage du Havre, également bien achalandé.
Inutile de dire que j'ai salivé longtemps devant toutes ces merveilles.
Pour mémoriser tout ça, rien de tel qu'un petit appareil photo, à l'époque un Brownie Kodak que j'ai reçu en cadeau pour ma communion.
Alors pour voir plus vite mes photos, je les développais et les tirais avec l'aide de Monsieur mon Père A.A. qui avait squatté le cabinet de toilette. Inutile de dire que c'était au grand désespoir de ma Mère qui se plaignait fortement des taches laissées par les produits chimiques …
C'est de cette manière que j'ai mis le doigt (et même le bras) dans ces 2 passions qui me tiennent aujourd'hui plus que jamais.
Depuis j'ai toujours photographié mes constructions en cours pour voir si elles ressemblaient vraiment à la réalité.
A force de me prendre au jeu je me suis retrouvé dans “l'obligation” de posséder du beau matériel roulant (pas le moins cher malheureusement) et le matériel photo qui va bien (lui aussi n'est pas gratuit !)
Il faut avouer que ma profession de dessinateur publicitaire / graphiste a facilité les choses au niveau de l'accès aux différentes techniques utilisées en modélisme ferroviaire puisqu'elles font partie de mon métier.
En 1984, Clive Lamming a écrit dans les colonnes de Loco Revue "Ne dites pas à ma mère que je suis modéliste ferroviaire, elle me croit dans la publicité".
Il y présentait mon premier grand chantier : le Dépôt Nord, inspiré de celui de Calais. La nouvelle mode était de de "modélisme d'atmosphère" …
Lorsqu'en 1986 on a commencé à parler d'informatique avec des ordinateurs qui devaient être capables de devenir les outils de rêve des graphistes j'ai plongé immédiatement dans cette nouvelle technique tant prometteuse. J'ai acheté mon premier MAC (II fx) en 1987.
Depuis, les appareils photos sont eux aussi devenus numériques. Aujourd'hui ils offrent des capacités fabuleuses.
Un MAC (outil préféré des graphistes) plus un bon APN et quelques logiciels adaptés mettent le labo photo de "papy" au placard, il paraît sortir tout droit du moyen-âge … plus besoin d'être enfermé dans un labo éclairé en rouge, qui sent la chimie et qui fait des taches. Développer ses photos est devenu un rêve !
Tout ça explique pourquoi mes 2 passions sont devenues indissociables l'une de l'autre. Je les conjugue à tous les temps.
Aujourd'hui, à chaque fois que quelque chose me semble terminé, j'en tire le portrait pour voir si ça ressemble à un vrai.
De cette manière naissent toutes mes maquettes et photos d'elles, c'est le truc imparable pour tromper l'œil de celui qui regarde !
Merci David pour cette superbe histoire de trains.
Michel, comment es-tu arrivé là en modélisme ? ”
LES 2 PASSIONS QUI M'ONT CONDUIT OÙ J'EN SUIS ARRIVÉ EN MODÉLISME FERROVIAIRE
Lorsque j'avais 10 ans en 1954 …
• La première avec les trains électriques (750V de la ligne Paris St-Lazare à Versailles) et d'autres tractés par des locomotives à vapeur qui passaient à coté de notre habitation, et un cadeau du Père Noël de la marque Rivarossi, déjà en HO. Il était Italien mais ça ne me dérangeait pas vraiment.
• La seconde avec mon Père passionné par la photographie depuis toujours qui m'a fait tomber dans ses cuves de révélateur.
Le train était bien mais il tournait en rond avec sa voie très fragile fixée sur un plateau de 1,20 de coté et ça m'ennuyait. Il lui fallait un décor avec maisons et arbres.
Comment faire le décor ? simplement en allant regarder où passait le train en sortie de Paris, St-Cloud pour être précis ou en Touraine pendant les vacances.
Mon oncle était "cheminot" à Paris-Batignolles , un autre ami était mécanicien sur les locos vapeurs du dépôt des Batignolles et un cousin était “cantonnier” sur la ligne Vierzon-Tours. Rien que des lieux de rêve.
A coté de la gare St-Lazare, dans le quartier de l'Europe, rue d'Amsterdam, il y avait le super magasin “Au Pullman”, qui existe toujours, dont les vitrines étaient remplies de beaux trains … destin : la rue de Lisbonne était 100 m. plus loin. Un autre temple du train miniature “La Maison des Trains” était installé dans le passage du Havre, également bien achalandé.
Inutile de dire que j'ai salivé longtemps devant toutes ces merveilles.
Pour mémoriser tout ça, rien de tel qu'un petit appareil photo, à l'époque un Brownie Kodak que j'ai reçu en cadeau pour ma communion.
Alors pour voir plus vite mes photos, je les développais et les tirais avec l'aide de Monsieur mon Père A.A. qui avait squatté le cabinet de toilette. Inutile de dire que c'était au grand désespoir de ma Mère qui se plaignait fortement des taches laissées par les produits chimiques …
C'est de cette manière que j'ai mis le doigt (et même le bras) dans ces 2 passions qui me tiennent aujourd'hui plus que jamais.
Depuis j'ai toujours photographié mes constructions en cours pour voir si elles ressemblaient vraiment à la réalité.
A force de me prendre au jeu je me suis retrouvé dans “l'obligation” de posséder du beau matériel roulant (pas le moins cher malheureusement) et le matériel photo qui va bien (lui aussi n'est pas gratuit !)
Il faut avouer que ma profession de dessinateur publicitaire / graphiste a facilité les choses au niveau de l'accès aux différentes techniques utilisées en modélisme ferroviaire puisqu'elles font partie de mon métier.
En 1984, Clive Lamming a écrit dans les colonnes de Loco Revue "Ne dites pas à ma mère que je suis modéliste ferroviaire, elle me croit dans la publicité".
Il y présentait mon premier grand chantier : le Dépôt Nord, inspiré de celui de Calais. La nouvelle mode était de de "modélisme d'atmosphère" …
Lorsqu'en 1986 on a commencé à parler d'informatique avec des ordinateurs qui devaient être capables de devenir les outils de rêve des graphistes j'ai plongé immédiatement dans cette nouvelle technique tant prometteuse. J'ai acheté mon premier MAC (II fx) en 1987.
Depuis, les appareils photos sont eux aussi devenus numériques. Aujourd'hui ils offrent des capacités fabuleuses.
Un MAC (outil préféré des graphistes) plus un bon APN et quelques logiciels adaptés mettent le labo photo de "papy" au placard, il paraît sortir tout droit du moyen-âge … plus besoin d'être enfermé dans un labo éclairé en rouge, qui sent la chimie et qui fait des taches. Développer ses photos est devenu un rêve !
Tout ça explique pourquoi mes 2 passions sont devenues indissociables l'une de l'autre. Je les conjugue à tous les temps.
Aujourd'hui, à chaque fois que quelque chose me semble terminé, j'en tire le portrait pour voir si ça ressemble à un vrai.
De cette manière naissent toutes mes maquettes et photos d'elles, c'est le truc imparable pour tromper l'œil de celui qui regarde !
Merci David pour cette superbe histoire de trains.
David, il me semble également qu'avec ton frère vous avez eu un parcours très semblable au mien.
Maintenant tu dois me raconter cette histoire !
C'est amusant, Michel, comme certains aspects de ton histoire me ramènent en mémoire de bons souvenirs d'enfance et adolescence et comment certains sujets ont influencés notre progression ferro-modélistique, distincte, mais identique ici et là.
Et je suis certain que d'autres amis, qui dans nos mémoires, au Portugal comme en France ou en Espagne, trouvent aussi des points communs dans l'un ou l'autre de nos souvenirs.
Tu sais, au milieu des années 70, mon frère Paulo et moi, alors avec quelques 15, 16 ans, nous nous sommes initiés à la photo-graphie, avec une série de cours offerts au lycée, avec l'aide de l'IPF (Instituto Português de Fotografia).
Nous avons fini par trans-former la petite salle de bain (WC) de la maison en laboratoire photographique (!), avec l'aide de nos parents, qui toujours ont montré de l'enthousiasme pour nos «espiègleries» !
Nous avions un laboratoire MEOPTA, où nous développions nos photos en Noir et Blanc.
Nous faisions nos expériences macro avec une boîte "pinhole" que nous avions construite. La raison était, évidente, pour la majorité des fois ferro-modélistique !
À cet effet nous avions construit, en carton, un petit bloc d'immeuble en HO, inspiré des maisons de notre terre, avec les rues et les trottoirs en petits pavés gravés dans du bristol .
J'avais un Praktica avec objectif Pentacon 35-70 mm et un Zenit 50 mm (films en Couleur et Noir et Blanc, parfois diapositives). Mon frère, plus "élitiste", ne faisait que du N&B.
Il avait acquis un appareil et un photomètre de haute sensibilité Voigtländer en deuxième main, des objectifs Carl Zeiss et en plus une panoplie d'outils. Il a suivi des études sur la photographie et l'image et est parvenu à monter son studio photographique dans les années 90.
Le laboratoire du WC fonctionnait encore quand j'ai quitté le maison pour me marier, quelques 10 ans plus tard…
Mais ce goût, comme celui pour les trains, a commencé très tôt. À 10 et 11 ans, nos parents nous ont offerts, pour Noël, un Kodak Rapid et un Agfamatic, que nous avions toujours avec nous et avec lesquelles nous avons fait nos premières photos de trains, en couleurs, dans les années 70 !
La passion pour les modèles ferroviaires a toujours été de pair avec la passion pour les vrais trains.
Mes souvenirs ferroviaires remontent au début des années 60. Je me rappelle de la plaque tournante du Rossio, où nous allions nous promener avec mon grand-père, j'avais 3 ans.
Et, quand une UTE 2000, 1ère ou 2ème phase, que nous prenions au Rossio pour aller à Amadora (nous allions d'Alverca pour le Rossio aussi en UTE), passait près du dépôt de Campolide, à la sortie du tunnel, où on garait le train FIAT "Foguete", tout argenté, à côté des Allan bleus, que de rêves …
Nous allions aussi très souvent à la campagne, à Cadaval, en prenant les cars des Claras.
Un jour mon père a décidé que nous irions en train jusqu'à Bombarral, au lieu de la camionnette.
J'avais 7 ans, un voyage entier dans le fourgon de l'Allan, debout, collé à la vitre du devant ! Inoubliable…
Et tant d'autres souvenirs.
Un certain Samedi matin, 1967, Campolide saturé de trains à cause de la chute d'une caténaire de la ligne de Sintra. Notre train était une UTE de la 1ère phase en service banlieue Rossio - Vila Franca (où, comme toujours, mes parents occupaient la banquette du devant, tandis que moi et mon frère allions "accrochés" à l'armoire près de la vitre avant). Après un bon quart d'heure d'arrêt à l'intérieur du tunnel depuis le départ du Rossio, nous sommes arrivés à Campolide sur la ligne 4, à l'arrière d'une autre composition, où a été fait un service de passagers et là nous y restions presque une demi heure. Finalement, nous sommes retournés à nouveau à l'entrée du tunnel, avançant par la voie de réception du parc de matériel jusqu'à la voie de distribution du haut près de Sete-Rios, où nous avons été immobilisés à nouveau. Après quelques temps, nous avons refoulé à travers le parc, venant à stationner sur la voie en cul de sac à coté du talus, derrière les ateliers de matériel électrique, où nous sommes restés à nouveau une éternité. Excuses, vu la mauvaise humeur qui transpirait dans ce train plein de passagers épuisés. Clair, excepté deux polis-sons de 6 et 7 ans, rayonnants avec toutes ces manœuvres, principalement avec le privilège de con-naître la partie cachée des ateliers.
Une autre fois, à 8 ans, à Alhos Vedros, une Pacific en manœuvre s'est arrêtée à un PN, avec ses roues énormes bien devant moi qui voulait aller voir de plus près et ma mère, pleine de peur, à me retenir : "oh mère, il n'y a pas danger ! tu penses que la machine peut sortir des rails ?" Je ne l'ai pas convaincue.
À partir de mes 12 ans , je fréquentais le lycée à Vila Franca. Le voyage aller et retour pour Alverca était toujours en UTE, nombreuses fois au côté du machiniste.
Mon premier train électrique "sérieux"», a été l'ensemble TEE de Jouef, pour Noël 1967, à moitié avec Paulo. Hum… cette
CC 40101 avec ses deux voitures TEE inox, aussi semblables que nos vrais trains (les UTE) que nous prenions régulièrement pour aller voir les oncles à Amadora… De cet ensemble il ne reste rien, tant ont été les fois où j'ai démonté et remonté les pièces.
Le modélisme ferroviaire a commencé vraiment avec les points Pensal. Dans la décennie de 70, Nestlé, en partenariat avec Jouef, a lancé une promotion avec la farine et le lait en poudre Pensal, qui s'est maintenue plusieurs années. Les points cumulés imprimés sur les boîtes de lait et de farine se changeaient pour des voies, aiguilles, machines, voitures, wagons et transformateur. C'est comme ça que j'ai acquis la CC70001, BB12001, CIWL, Grue Cockerill de 85 T, de la voie, des aiguillages et 2 transformateurs 9100. Le délire était de consommer deux emballages de farine par semaine… et ainsi est née la première maquette "modulaire" : 3 plaques avec une dimension totale de 2,40 par 1,35 m, démontables, pour pouvoir tenir dans la chambre à coucher pendant les périodes de vacances scolaires. À cette époque nous dormions sur le sol. Pouvaient marcher 2 trains en même temps (les deux transformateurs Jouef Norma 1500), il y avait une station terminus où les manœuvres de formation / triage des compositions, avec un locotracteur hollandais de Roco, de ralenti exceptionnel, s'inspirant de ceux de Santa Apolónia.
Mon premier catalogue a été le Jouef de 1974, il me fascinait ! Je buvais toute ces informations avec avidité… et rêvais avec le Jouefmatic. Seulement je ne connaissais rien du monde qui tournait autour du modélisme ferroviaire. D'une certaine manière, je pensais que chacun "jouait" aux trains dans son petit coin, sans aucune inter-action avec les autres.
En 1977 j'ai découvert par hasard, dans la Librairie Britannique du "Cais do Sodré", un exemplaire de "Railway Modeller". Et peu après "Model Railroader".
Bon, soudain, j'ai commen-cé à voir qu'après tout, ce que je faisais - les bâti-ments, les arbres, la saleté sur les modèles, etc. - et mes projets de maquettes, faisaient partie du quoti-dien à l'échelle planétaire !
À cette époque, 17 ans, j'ai connu le magasin du "Largo da Anunciada", près de l'Ascenseur de "Lavra". Bien sûr, j'ai aussi connu "Biagio Flora" et le "Bazar do Povo", dans la "Rua do Ouro", mais le magasin du "Tadeu", dans "Anunciada", était spécial. Un endroit confortable de 4 mètres par 4 et un comptoir de 1,5 m toujours plein de bazar, les murs complètement recouverts de trains, de bas en haut - Jouef, Lima, Trobby, Playcraft, Jep, Paya, France-trains, Hornby-HO, quelques Rivarossi, Eger-Bahn originaux, enfin … Heures et heures et heures en conversation avec le vieux Tadeu, toujours la cigarette à la bouche. C'est là que j'ai acheté ma première Bris-sonneau 63500, très semblable à nos 1200 (mili-duzentas), d'un lot de 3 qui venaient d'être lancées par Roco, que le Tadeu a fait venir en contrebande directement de France, même avant que l'importateur au Portugal puisse les com-mander. Je n'imagine pas pour qui étaient destinées les deux autres… Un jour, le magasin était fermé et une note sur la porte informait de son décès. Jamais plus il a ouvert. Je me rappelle, le Tadeu était le seul qui remplissait le trottoir devant ses vitrines, à l'entrée du magasin avec des modèles et des accessoires ferroviaires, sur la promenade, à l'entrée du magasin, comme pour inviter le passant à entrer dans ce magnifique monde.
Fréquemment se joignaient à nous 2 ou 3 à converser avec lui un après midi entier, sur nos réalisations et nos projets, sans préjugés d'âge ni complexes de supériorité. J'étais toujours l'enfant, le plus jeune.
Quand j'ai été étudier à Porto, en 1980, j'ai été impressionné par le "Bazar de Paris", dans la "Rua da Sá da Bandeira". Toutefois une fois de plus, c'était un magasin minuscule, mais spécial, qui me captivait et où j'ai pu admirer et essayer les magnifiques Pacific Chapelon et les voitures-lits de Rivarossi : le "Bazar Brochado", dans la "Rua Santa Teresa". Et j'ai acheté mes deux premiers Alco pour faire les 1500 (mili-quinhentas), un ensemble de Mehanotehnica, dans une droguerie de Prelada !
C'est à cette occasion que j'ai fait la maquette "Reguengos", et que j'ai publié une photo dans la page des FB, et avec laquelle j'ai gagné un premier prix dans une concours de thématique artistique diverse. J'ai publié une photo dans ma page de Facebook (David Nobre Modelismo).
J'ai montré cette maquette à la fête de l'Avante de 1982, par invitation de mon oncle qui était cheminot et membre du PCP, et l'année suivante à la Foire Industrielle de Lisbonne, où un des centres d'attraction a été la première participation de l'APAC, à laquelle j'ai adhéré.
Ensuite, en 1983, j'ai pris contact avec Loco-Revue et Rail Miniature Flash, et ai fini par signer un abonnement à LR à partir de Janvier 1984, pour plus d'une décennie.
C'est là que j'ai découvert les techniques de modelage avec la résine et le plomb, auxquelles j'ai adhéré immédiatement, et que je me suis délecté à l'avance du système modulaire en France, de pair avec la naissance du concept de modélisme d'atmosphère, que j'ai voulu apporter au Portugal, avec quelques amis, dans un célèbre mais abîmé projet de réalisation de la gare de Seixal dans le groupe de modélisme de l'APAC. Et ainsi j'ai découvert les magnifiques travaux de noms qui sont devenus des icônes du modélisme ferroviaire, comme Jacques Le-Plat ou Alain Pras, ou Jean-Louis Audigué et toi, Michel, avec la beauté Dépôt du Nord, entre autres les réalisations surprenantes que tu nous as présentées au long des temps.
Qui dirait que, presque trente ans après, nous viendrions à nous connaître et à devenir des amis, au point de partager "à quatre mains" un peu de notre histoire et de nos motivations.
Et voilà, la boucle est bouclée, merci pour cette généreuse invitation et, surtout, excuse moi pour l'allongement du texte.
Mais il est difficile de synthétiser quand l'émotion rend compte de notre mémoire.
Maintenant tu dois me raconter cette histoire !
C'est amusant, Michel, comme certains aspects de ton histoire me ramènent en mémoire de bons souvenirs d'enfance et adolescence et comment certains sujets ont influencés notre progression ferro-modélistique, distincte, mais identique ici et là.
Et je suis certain que d'autres amis, qui dans nos mémoires, au Portugal comme en France ou en Espagne, trouvent aussi des points communs dans l'un ou l'autre de nos souvenirs.
Tu sais, au milieu des années 70, mon frère Paulo et moi, alors avec quelques 15, 16 ans, nous nous sommes initiés à la photo-graphie, avec une série de cours offerts au lycée, avec l'aide de l'IPF (Instituto Português de Fotografia).
Nous avons fini par trans-former la petite salle de bain (WC) de la maison en laboratoire photographique (!), avec l'aide de nos parents, qui toujours ont montré de l'enthousiasme pour nos «espiègleries» !
Nous avions un laboratoire MEOPTA, où nous développions nos photos en Noir et Blanc.
Nous faisions nos expériences macro avec une boîte "pinhole" que nous avions construite. La raison était, évidente, pour la majorité des fois ferro-modélistique !
À cet effet nous avions construit, en carton, un petit bloc d'immeuble en HO, inspiré des maisons de notre terre, avec les rues et les trottoirs en petits pavés gravés dans du bristol .
J'avais un Praktica avec objectif Pentacon 35-70 mm et un Zenit 50 mm (films en Couleur et Noir et Blanc, parfois diapositives). Mon frère, plus "élitiste", ne faisait que du N&B.
Il avait acquis un appareil et un photomètre de haute sensibilité Voigtländer en deuxième main, des objectifs Carl Zeiss et en plus une panoplie d'outils. Il a suivi des études sur la photographie et l'image et est parvenu à monter son studio photographique dans les années 90.
Le laboratoire du WC fonctionnait encore quand j'ai quitté le maison pour me marier, quelques 10 ans plus tard…
Mais ce goût, comme celui pour les trains, a commencé très tôt. À 10 et 11 ans, nos parents nous ont offerts, pour Noël, un Kodak Rapid et un Agfamatic, que nous avions toujours avec nous et avec lesquelles nous avons fait nos premières photos de trains, en couleurs, dans les années 70 !
La passion pour les modèles ferroviaires a toujours été de pair avec la passion pour les vrais trains.
Mes souvenirs ferroviaires remontent au début des années 60. Je me rappelle de la plaque tournante du Rossio, où nous allions nous promener avec mon grand-père, j'avais 3 ans.
Et, quand une UTE 2000, 1ère ou 2ème phase, que nous prenions au Rossio pour aller à Amadora (nous allions d'Alverca pour le Rossio aussi en UTE), passait près du dépôt de Campolide, à la sortie du tunnel, où on garait le train FIAT "Foguete", tout argenté, à côté des Allan bleus, que de rêves …
Nous allions aussi très souvent à la campagne, à Cadaval, en prenant les cars des Claras.
Un jour mon père a décidé que nous irions en train jusqu'à Bombarral, au lieu de la camionnette.
J'avais 7 ans, un voyage entier dans le fourgon de l'Allan, debout, collé à la vitre du devant ! Inoubliable…
Et tant d'autres souvenirs.
Un certain Samedi matin, 1967, Campolide saturé de trains à cause de la chute d'une caténaire de la ligne de Sintra. Notre train était une UTE de la 1ère phase en service banlieue Rossio - Vila Franca (où, comme toujours, mes parents occupaient la banquette du devant, tandis que moi et mon frère allions "accrochés" à l'armoire près de la vitre avant). Après un bon quart d'heure d'arrêt à l'intérieur du tunnel depuis le départ du Rossio, nous sommes arrivés à Campolide sur la ligne 4, à l'arrière d'une autre composition, où a été fait un service de passagers et là nous y restions presque une demi heure. Finalement, nous sommes retournés à nouveau à l'entrée du tunnel, avançant par la voie de réception du parc de matériel jusqu'à la voie de distribution du haut près de Sete-Rios, où nous avons été immobilisés à nouveau. Après quelques temps, nous avons refoulé à travers le parc, venant à stationner sur la voie en cul de sac à coté du talus, derrière les ateliers de matériel électrique, où nous sommes restés à nouveau une éternité. Excuses, vu la mauvaise humeur qui transpirait dans ce train plein de passagers épuisés. Clair, excepté deux polis-sons de 6 et 7 ans, rayonnants avec toutes ces manœuvres, principalement avec le privilège de con-naître la partie cachée des ateliers.
Une autre fois, à 8 ans, à Alhos Vedros, une Pacific en manœuvre s'est arrêtée à un PN, avec ses roues énormes bien devant moi qui voulait aller voir de plus près et ma mère, pleine de peur, à me retenir : "oh mère, il n'y a pas danger ! tu penses que la machine peut sortir des rails ?" Je ne l'ai pas convaincue.
À partir de mes 12 ans , je fréquentais le lycée à Vila Franca. Le voyage aller et retour pour Alverca était toujours en UTE, nombreuses fois au côté du machiniste.
Mon premier train électrique "sérieux"», a été l'ensemble TEE de Jouef, pour Noël 1967, à moitié avec Paulo. Hum… cette
CC 40101 avec ses deux voitures TEE inox, aussi semblables que nos vrais trains (les UTE) que nous prenions régulièrement pour aller voir les oncles à Amadora… De cet ensemble il ne reste rien, tant ont été les fois où j'ai démonté et remonté les pièces.
Le modélisme ferroviaire a commencé vraiment avec les points Pensal. Dans la décennie de 70, Nestlé, en partenariat avec Jouef, a lancé une promotion avec la farine et le lait en poudre Pensal, qui s'est maintenue plusieurs années. Les points cumulés imprimés sur les boîtes de lait et de farine se changeaient pour des voies, aiguilles, machines, voitures, wagons et transformateur. C'est comme ça que j'ai acquis la CC70001, BB12001, CIWL, Grue Cockerill de 85 T, de la voie, des aiguillages et 2 transformateurs 9100. Le délire était de consommer deux emballages de farine par semaine… et ainsi est née la première maquette "modulaire" : 3 plaques avec une dimension totale de 2,40 par 1,35 m, démontables, pour pouvoir tenir dans la chambre à coucher pendant les périodes de vacances scolaires. À cette époque nous dormions sur le sol. Pouvaient marcher 2 trains en même temps (les deux transformateurs Jouef Norma 1500), il y avait une station terminus où les manœuvres de formation / triage des compositions, avec un locotracteur hollandais de Roco, de ralenti exceptionnel, s'inspirant de ceux de Santa Apolónia.
Mon premier catalogue a été le Jouef de 1974, il me fascinait ! Je buvais toute ces informations avec avidité… et rêvais avec le Jouefmatic. Seulement je ne connaissais rien du monde qui tournait autour du modélisme ferroviaire. D'une certaine manière, je pensais que chacun "jouait" aux trains dans son petit coin, sans aucune inter-action avec les autres.
En 1977 j'ai découvert par hasard, dans la Librairie Britannique du "Cais do Sodré", un exemplaire de "Railway Modeller". Et peu après "Model Railroader".
Bon, soudain, j'ai commen-cé à voir qu'après tout, ce que je faisais - les bâti-ments, les arbres, la saleté sur les modèles, etc. - et mes projets de maquettes, faisaient partie du quoti-dien à l'échelle planétaire !
À cette époque, 17 ans, j'ai connu le magasin du "Largo da Anunciada", près de l'Ascenseur de "Lavra". Bien sûr, j'ai aussi connu "Biagio Flora" et le "Bazar do Povo", dans la "Rua do Ouro", mais le magasin du "Tadeu", dans "Anunciada", était spécial. Un endroit confortable de 4 mètres par 4 et un comptoir de 1,5 m toujours plein de bazar, les murs complètement recouverts de trains, de bas en haut - Jouef, Lima, Trobby, Playcraft, Jep, Paya, France-trains, Hornby-HO, quelques Rivarossi, Eger-Bahn originaux, enfin … Heures et heures et heures en conversation avec le vieux Tadeu, toujours la cigarette à la bouche. C'est là que j'ai acheté ma première Bris-sonneau 63500, très semblable à nos 1200 (mili-duzentas), d'un lot de 3 qui venaient d'être lancées par Roco, que le Tadeu a fait venir en contrebande directement de France, même avant que l'importateur au Portugal puisse les com-mander. Je n'imagine pas pour qui étaient destinées les deux autres… Un jour, le magasin était fermé et une note sur la porte informait de son décès. Jamais plus il a ouvert. Je me rappelle, le Tadeu était le seul qui remplissait le trottoir devant ses vitrines, à l'entrée du magasin avec des modèles et des accessoires ferroviaires, sur la promenade, à l'entrée du magasin, comme pour inviter le passant à entrer dans ce magnifique monde.
Fréquemment se joignaient à nous 2 ou 3 à converser avec lui un après midi entier, sur nos réalisations et nos projets, sans préjugés d'âge ni complexes de supériorité. J'étais toujours l'enfant, le plus jeune.
Quand j'ai été étudier à Porto, en 1980, j'ai été impressionné par le "Bazar de Paris", dans la "Rua da Sá da Bandeira". Toutefois une fois de plus, c'était un magasin minuscule, mais spécial, qui me captivait et où j'ai pu admirer et essayer les magnifiques Pacific Chapelon et les voitures-lits de Rivarossi : le "Bazar Brochado", dans la "Rua Santa Teresa". Et j'ai acheté mes deux premiers Alco pour faire les 1500 (mili-quinhentas), un ensemble de Mehanotehnica, dans une droguerie de Prelada !
C'est à cette occasion que j'ai fait la maquette "Reguengos", et que j'ai publié une photo dans la page des FB, et avec laquelle j'ai gagné un premier prix dans une concours de thématique artistique diverse. J'ai publié une photo dans ma page de Facebook (David Nobre Modelismo).
J'ai montré cette maquette à la fête de l'Avante de 1982, par invitation de mon oncle qui était cheminot et membre du PCP, et l'année suivante à la Foire Industrielle de Lisbonne, où un des centres d'attraction a été la première participation de l'APAC, à laquelle j'ai adhéré.
Ensuite, en 1983, j'ai pris contact avec Loco-Revue et Rail Miniature Flash, et ai fini par signer un abonnement à LR à partir de Janvier 1984, pour plus d'une décennie.
C'est là que j'ai découvert les techniques de modelage avec la résine et le plomb, auxquelles j'ai adhéré immédiatement, et que je me suis délecté à l'avance du système modulaire en France, de pair avec la naissance du concept de modélisme d'atmosphère, que j'ai voulu apporter au Portugal, avec quelques amis, dans un célèbre mais abîmé projet de réalisation de la gare de Seixal dans le groupe de modélisme de l'APAC. Et ainsi j'ai découvert les magnifiques travaux de noms qui sont devenus des icônes du modélisme ferroviaire, comme Jacques Le-Plat ou Alain Pras, ou Jean-Louis Audigué et toi, Michel, avec la beauté Dépôt du Nord, entre autres les réalisations surprenantes que tu nous as présentées au long des temps.
Qui dirait que, presque trente ans après, nous viendrions à nous connaître et à devenir des amis, au point de partager "à quatre mains" un peu de notre histoire et de nos motivations.
Et voilà, la boucle est bouclée, merci pour cette généreuse invitation et, surtout, excuse moi pour l'allongement du texte.
Mais il est difficile de synthétiser quand l'émotion rend compte de notre mémoire.
Photos & dessins, non libres de droits, issus de ma collection. / Desenhos & Fotografias não livres de direitos.
© 11/2018 MSA - Michel Subrenat-Auger.